O Atentado e o cidadão de bem
Gerson
Vieira*
As explosões na Praça dos Três
Poderes reverberam além dos estilhaços e do medo. Elas ecoam como um sino de
alarme, alertando para um cenário cada vez mais sombrio e complexo que paira
sobre o Brasil. A violência, antes vista como um problema distante ou
circunscrito a determinados grupos, agora se manifesta no coração da democracia
brasileira, atacando os símbolos máximos do poder e da justiça.
É preciso ter clareza: esse
ato não é um fato isolado. Ele é a ponta de um iceberg que revela uma série de
problemas profundamente arraigados na sociedade brasileira. O avanço da extrema
direita, com suas retóricas de ódio e disseminação de fake news, tem criado um
ambiente de polarização e intolerância que fragiliza os laços sociais e
alimenta a violência. A proliferação de discursos conspiratórios e a adesão a
ideologias extremistas, muitas vezes amparadas por setores religiosos como o
neopentecostalismo, têm radicalizado parcela significativa da população,
tornando-a suscetível à manipulação e à incitação à violência.
A transformação do Brasil em
um narcoestado é outro fator que agrava a situação. O crime organizado, com
seus tentáculos cada vez mais longos, infiltra-se em todas as esferas da
sociedade, corrompendo instituições e manipulando o poder político. A disputa
pelo controle do tráfico de drogas e de outras atividades ilícitas gera um
clima de insegurança e violência que se espalha por todo o território nacional.
O atentado em Brasília pode
ser um caso isolado, o ato desesperado de um indivíduo desequilibrado. Mas
também pode ser o início de um processo mais amplo de desestabilização da ordem
democrática. A história nos mostra que a violência política, uma vez desencadeada,
é difícil de controlar. A espiral de ódio e vingança pode levar a um ciclo de
violência que coloca em risco a própria existência da nação.
Diante desse cenário, é
urgente que a sociedade brasileira abra os olhos e se mobilize para enfrentar
os desafios que a afligem. É preciso combater a disseminação do ódio e da
intolerância, fortalecer as instituições democráticas e promover o diálogo entre
as diferentes forças políticas. É fundamental também investir em políticas
públicas que promovam a justiça social, a inclusão e a igualdade de
oportunidades, combatendo as raízes da violência e da criminalidade.
O
Brasil está à beira de um precipício. A escolha é nossa: mergulhar no caos ou
construir um futuro mais justo e democrático. A responsabilidade por esse
futuro é de cada um de nós.
* poeta e cronista, ex-secretário de Cultura do PT no
Paraná
@gersonlvieira
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