Falar do Antonio Jesus Pfeil, é Falar do
Adorável Vagabundo, que veio ao mundo a prazer não a negócios. Um
cara que trabalhava demais no que lhe dava prazer, o verdadeiro inventor
do Ócio Criativo. Jesus não é sinopse, é um longa-metragem, digno do “E o
vento levou”.
Cinema, cultura e livros eram seu mundo.
Um homem apaixonado pela família, Dona Leda e suas filhas e
netos.
A partida de Jesus do plano terreno, não deve ser encarada
com tristeza, mas sim com gratidão e com a saudade que está chegando.
Minha saudade será de sua alegria, irreverência e do grande
legado que ele nos deixa.
Jesus é a “fita” de um grande filme, sua elegante
trajetória nos fez sentir gratidão, seus livros deixaram a memória de
nossa cidade para as futuras gerações.
Jesus não está partindo, apenas virou saudade,
estará para sempre vivo em nossos corações.
Lembrarei de Jesus passando elegante pela passarela da
cabeça em direção ao Paço Municipal, ao Café do Amadeu, entre outros lugarejos
de Canoas. Esse passeio poderia demorar horas, pois encontrar pessoas e
um bom papo era o seu grande prazer.
O importante eram as pessoas, fosse um grande político ou um
transeunte qualquer. A atenção, dada, era igual para todos e
todas.
Esse homem, ganhador de vários kikitos em Gramado, prêmios
em diversos festivais e de obras literárias sobre vários assuntos.
Jesus resolveu tirar férias definitivas de seu Ócio
Criativo.
Vá em paz adorável Vagabundo e mande lembranças para o outro
Vagabundo, chamado Charlie Chaplin.
Jesus foi um homem que soube viver a vida, trabalhar no que
lhe dava prazer e tudo isso com uma elegância despreocupada.
Nosso Jesus, o verdadeiro, está partindo para
outro filme, chamado A Gratidão e a Saudade.
Vá em Paz Jesus Bonito.
À família enlutada, não fiquem tristes, apenas
aplaudam o último ato deste grande vulto de nossa Canoas.
Gratidão meu bom amigo.
E finalmente você morreu dormindo, como sempre dizia quando
lhe perguntavam:
– Oi Jesus, como estás?
– Estou bem, não morri dormindo!
Ele se foi, mas deixou viva sua grande história.
Não chorem, Jesus não iria gostar disso em seu
último ato, só aplaudam!
JESUS O IRREVERENTE
Nasceu em Nova Santa Rita, então segundo distrito de Canoas,
em 7 de outubro de 1939. Veio para Canoas com um ano de idade. Fez seus estudos
iniciais no Centro Educacional La Salle e no Ruy Barbosa, em Porto Alegre. De
acordo com ele mesmo: “foram obrigados a passá-lo, pois, ninguém o
aguentava mais” (risos aqui).
Após passar pelo serviço militar (foi obrigado) na Base
Aérea de Canoas, o nosso cineasta “caiu no mundo”, em busca do que realmente
lhe interessava, já que não tinha vocação para profissões liberais ou
similares.
Foi mordido pelo encanto cultural, as “artes” eram uma
tentação irresistível. Teatro, cinema e a literatura mexiam com suas fantasias.
Em 1960 deu com os costados no Teatro São Pedro, trabalhando como ator no
“Teatro Brasileiro das Comédias”, ao lado de Leonardo Villar, Nathalia Timberg
e Benedito Corsi, dirigidos por Flávio Rangel. O maluco beleza foi parar no Rio
de Janeiro, palco cultural, nos Estúdios Herbert Richers, no auge do
cinema brasileiro, em que despontava o movimento do “cinema novo”. Seu
aprendizado foi com Roberto Farias, Carlos Hugo Cristense e dos americanos
Douglas Fawley e George Grahen.
Foi um período muito fértil para Jesus, com partição em
diversos filmes, como assistente.
Mas, a saudade de Canoas e de Dona Leda eram muito
fortes, ele voltou. Casou com um “expressivo estardalhaço”, as
filas de carros vinham da igreja matriz até o casarão dos Longoni, morada da
noiva, na Santos Ferreira.
Em 1966, a pesquisa cinematográfica, passou a
ocupar a vida diária de Antonio Bonito. Seu tempo era dedicado com
publicações em jornais e revistas de maneira a revelar novos subsídios à
História do Cinema Brasileiro. Isso lhe valeu o reconhecimento do difícil
crítico e pesquisador Paulo Emílio Salles, de São Paulo.
Neste tempo, Jesus, o verdadeiro, participou do início da
televisão no Rio Grande do Sul. Como ator colocou seu rosto na tela da
TV Gaúcha (RBS) no “Grande Teatro Tevelar”. Eram os tempos da
ditadura, embora inquieto e contundente, Jesus passou sem que lhe
dessem, azar deles né?
Em 1973, o Festival de Gramado convidou Jesus para ser
jurado. No ano seguinte dirigiu “Cinema Gaúcho dos anos vinte”, foi sua
primeira premiação no festival. A partir daí foram diversos prêmios, Jesus
é um campeão em Kikitos. Foram diversas participações como em: “Um homem
tem que ser morto”, de Davi Quintans e Geraldo Del Rey; “Um Certo Capitão
Rodrigo”, de Anselmo Duarte. Em 1974, representou o RS no “IV Encontro de
Pesquisadores do Cinema Brasileiro”, durante a XXVI reinião da Sociedade
Brasileira para p Progresso da Ciência, na Universidade de Recife.
Poderia seguir enumerando toda a história e o legado de
Antonio Jesus Pfeil, mas ficaria enfadonho e ocuparia o espaço de uma
enciclopédia.
Não é o que queremos.
Só queremos dizer, obrigado adorável vagabundo do
Ócio Criativo.
Matéria originalmente publicada no site Notícias da
Aldeia -> https://noticiasdaaldeia.com.br/morre-o-cineasta-historiador-e-escritor-antonio-jesus-pfeil/#comment-3062