segunda-feira, 28 de abril de 2025


O MASSACRE DO CENTRO CÍVICO

 

Gerson Vieira (*)

 

Cicatrizes na Democracia: O Massacre que Não Podemos Esquecer

Dez anos se passaram, mas as imagens permanecem vívidas como feridas abertas na memória coletiva do Paraná. Naquela tarde de 29 de abril de 2015, o Centro Cívico de Curitiba transformou-se em um campo de batalha onde o Estado, que deveria proteger, voltou-se contra seus próprios cidadãos. A violência brutal desferida contra professores e servidores públicos revela muito mais que um episódio isolado de repressão – expõe a fragilidade da nossa democracia, o desprezo pelo diálogo e a disposição de governantes em criminalizar movimentos legítimos quando interesses econômicos são contrariados. O Massacre do Centro Cívico não é apenas um evento a ser lembrado, mas uma cicatriz que deve permanecer visível para que jamais normalizemos a violência estatal contra aqueles que educam nossas crianças.

Eu estava lá. Entre os quase 20 mil manifestantes que ocupavam pacificamente a Praça Nossa Senhora de Salette, vi professores – majoritariamente mulheres – exercendo seu direito constitucional de protestar contra o confisco da previdência estadual. Testemunhei quando, sem aviso ou provocação, a ordem para atacar foi dada. O cenário que se seguiu parecia saído de um filme de guerra: bombas de efeito moral explodindo em meio à multidão, tiros de borracha disparados indiscriminadamente, helicópteros lançando gás lacrimogêneo de cima. A fumaça cinzenta encobriu o céu enquanto pessoas corriam desesperadas, algumas sangrando, outras sufocando.

A brutalidade daquele dia não foi acidental. Foi uma demonstração calculada de força ordenada pelo então governador Beto Richa e executada com precisão militar. O Estado, em sua forma mais crua e autoritária, mostrou que ainda carrega em seu DNA o instinto de silenciar pela força aqueles que ousam questionar. Mais de 400 feridos não foram suficientes para provocar um verdadeiro debate nacional sobre os limites da ação policial em manifestações democráticas. Pelo contrário, vimos tentativas de justificar o injustificável, de normalizar o absurdo.

O que torna esse episódio particularmente perturbador é que as vítimas eram educadores – aqueles que ensinam nossos filhos a pensar criticamente, a questionar e a exercer cidadania. São justamente esses profissionais que, quando se manifestam por melhores condições de trabalho ou contra o desmonte de seus direitos previdenciários, enfrentam cassetetes e bombas. A mensagem enviada naquele dia foi clara: questione e sofrerá as consequências.

A memória desse massacre não pode ser apagada ou relegada às notas de rodapé da história paranaense. Ela precisa ser constantemente revisitada como alerta contra a fragilidade das nossas instituições democráticas. Quando um Estado democrático de direito mobiliza seu aparato repressivo contra cidadãos desarmados que exercem direitos constitucionais, corremos o risco de normalizar práticas autoritárias que remontam aos nossos períodos mais sombrios.

As imagens daquele dia – professoras ensanguentadas sendo carregadas por colegas, servidores sufocando com gás lacrimogêneo, policiais avançando contra manifestantes que recuavam de mãos ao alto – devem permanecer vivas em nossa consciência coletiva. Não por masoquismo histórico, mas como antídoto contra o esquecimento que permite que tais atrocidades se repitam.

Dez anos depois, é preciso perguntar: o que mudou? As investigações sobre os responsáveis avançaram minimamente. Poucos foram responsabilizados. As vítimas continuam esperando por justiça enquanto assistem à gradual tentativa de apagamento daquele episódio da memória pública. Enquanto isso, novas gerações de professores continuam enfrentando o sucateamento da educação, salários defasados e a constante ameaça de perda de direitos.

O verdadeiro legado do Massacre do Centro Cívico deve ser nossa recusa coletiva em aceitar que o Estado use violência contra manifestantes pacíficos. Deve ser nosso compromisso em fortalecer mecanismos de controle da atividade policial e de responsabilização de agentes públicos que excedem seus poderes. Acima de tudo, deve ser nossa determinação em defender o direito ao protesto como pilar fundamental da democracia.

Jamais esquecerei aquelas cenas – o som das bombas, os gritos de desespero, o cheiro sufocante do gás, o vermelho do sangue contrastando com o branco dos jalecos dos professores. Quando uma democracia permite que educadores sejam tratados como inimigos, algo está profundamente errado. Por isso, não podemos permitir que o Massacre do Centro Cívico seja apenas um capítulo triste da história, mas um permanente chamado à vigilância democrática e à solidariedade com aqueles que, ao erguerem suas vozes, enfrentam a violência do Estado.

 

(*) Gerson Vieira, escritor, graduando em Letras/Espanhol pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ex-diretor do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, integra o Coletivo Estadual de Cultura  do PT no Paraná. Em 28/04/2025.

 

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Haicai do Perdão

 


          Perdoe-me Senhor pela minha ignorância,

Perdoe-me Senhor pela minha arrogância,

Perdoe-me Senhor pela minha falta de noção,

Perdoe-me Senhor por ser humano.


segunda-feira, 25 de novembro de 2024

39ª Feira do Livro de Canoas

 


Casa do Poeta de Canoas – sessão de autógrafos

24/11/2024 – 16 horas

Foi uma tarde maravilhosa, autografar cercado de amigos, escritores e familiares é o sonho de qualquer pretenso escritor.

Tarde para ver Maria Rigo, Mari Rigo, Leonel Moraes, Henrique Freitas, Walter K. Júnior e tantos outros que circularam no espaço.

A obra Vivências da Maturidade, organizada por Ancila Dani Martins, reúne 62 escritores que escrevem sobre suas memórias afetivas nos gêneros: poemas e crônicas.

Tive a honra de participar com a crônica “A Batalha dos Aflitos”, para lembrar a memorável façanha do Grêmio FBPA, em 2005. Acompanhei o jogo no “bar do Felipão” com o Marcos, meu filho. É nossa memória afetiva.

Escritores que participaram da obra Vivências da Maturidade

Família presente!



Morre o cineasta, historiador e escritor Antonio Jesus Pfeil

 


Falar do Antonio Jesus Pfeil, é Falar do Adorável Vagabundo, que veio ao mundo a prazer não a negócios. Um cara que trabalhava demais no que lhe dava prazer, o verdadeiro inventor do Ócio Criativo. Jesus não é sinopse, é um longa-metragem, digno do “E o vento levou”.

Cinema, cultura e livros eram seu mundo.

Um homem apaixonado pela família, Dona Leda e suas filhas e netos.

A partida de Jesus do plano terreno, não deve ser encarada com tristeza, mas sim com gratidão e com a saudade que está chegando.

Minha saudade será de sua alegria, irreverência e do grande legado que ele nos deixa.

Jesus é a “fita” de um grande filme, sua elegante trajetória nos fez sentir gratidão, seus livros deixaram a memória de nossa cidade para as futuras gerações.

Jesus não está partindo, apenas virou saudade, estará para sempre vivo em nossos corações.

Lembrarei de Jesus passando elegante pela passarela da cabeça em direção ao Paço Municipal, ao Café do Amadeu, entre outros lugarejos de Canoas. Esse passeio poderia demorar horas, pois encontrar pessoas e um bom papo era o seu grande prazer.

O importante eram as pessoas, fosse um grande político ou um transeunte qualquer.  A atenção, dada, era igual para todos e todas.

Esse homem, ganhador de vários kikitos em Gramado, prêmios em diversos festivais e de obras literárias sobre vários assuntos.

Jesus resolveu tirar férias definitivas de seu Ócio Criativo.

Vá em paz adorável Vagabundo e mande lembranças para o outro Vagabundo, chamado Charlie Chaplin.

Jesus foi um homem que soube viver a vida, trabalhar no que lhe dava prazer e tudo isso com uma elegância despreocupada.

Nosso Jesus, o verdadeiro, está partindo para outro filme, chamado A Gratidão e a Saudade.

Vá em Paz Jesus Bonito.

À família enlutada, não fiquem tristes, apenas aplaudam o último ato deste grande vulto de nossa Canoas.

Gratidão meu bom amigo.

E finalmente você morreu dormindo, como sempre dizia quando lhe perguntavam:

– Oi Jesus, como estás?

– Estou bem, não morri dormindo!

Ele se foi, mas deixou viva sua grande história.

Não chorem, Jesus não iria gostar disso em seu último ato, só aplaudam!

JESUS O IRREVERENTE

Nasceu em Nova Santa Rita, então segundo distrito de Canoas, em 7 de outubro de 1939. Veio para Canoas com um ano de idade. Fez seus estudos iniciais no Centro Educacional La Salle e no Ruy Barbosa, em Porto Alegre. De acordo com ele mesmo: “foram obrigados a passá-lo, pois, ninguém o aguentava mais” (risos aqui).

Após passar pelo serviço militar (foi obrigado) na Base Aérea de Canoas, o nosso cineasta “caiu no mundo”, em busca do que realmente lhe interessava, já que não tinha vocação para profissões liberais ou similares.

Foi mordido pelo encanto cultural, as “artes” eram uma tentação irresistível. Teatro, cinema e a literatura mexiam com suas fantasias. Em 1960 deu com os costados no Teatro São Pedro, trabalhando como ator no “Teatro Brasileiro das Comédias”, ao lado de Leonardo Villar, Nathalia Timberg e Benedito Corsi, dirigidos por Flávio Rangel. O maluco beleza foi parar no Rio de Janeiro, palco cultural, nos Estúdios Herbert Richers, no auge do cinema brasileiro, em que despontava o movimento do “cinema novo”. Seu aprendizado foi com Roberto Farias, Carlos Hugo Cristense e dos americanos Douglas Fawley e George Grahen.

Foi um período muito fértil para Jesus, com partição em diversos filmes, como assistente.

Mas, a saudade de Canoas e de Dona Leda eram muito fortes, ele voltou. Casou com um “expressivo estardalhaço”, as filas de carros vinham da igreja matriz até o casarão dos Longoni, morada da noiva, na Santos Ferreira.

Em 1966, a pesquisa cinematográfica, passou a ocupar a vida diária de Antonio Bonito. Seu tempo era dedicado com publicações em jornais e revistas de maneira a revelar novos subsídios à História do Cinema Brasileiro. Isso lhe valeu o reconhecimento do difícil crítico e pesquisador Paulo Emílio Salles, de São Paulo.

Neste tempo, Jesus, o verdadeiro, participou do início da televisão no Rio Grande do Sul. Como ator colocou seu rosto na tela da TV Gaúcha (RBS) no “Grande Teatro Tevelar”. Eram os tempos da ditadura, embora inquieto e contundente, Jesus passou sem que lhe dessem, azar deles né?

Em 1973, o Festival de Gramado convidou Jesus para ser jurado. No ano seguinte dirigiu “Cinema Gaúcho dos anos vinte”, foi sua primeira premiação no festival. A partir daí foram diversos prêmios, Jesus é um campeão em Kikitos. Foram diversas participações como em: “Um homem tem que ser morto”, de Davi Quintans e Geraldo Del Rey; “Um Certo Capitão Rodrigo”, de Anselmo Duarte. Em 1974, representou o RS no “IV Encontro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro”, durante a XXVI reinião da Sociedade Brasileira para p Progresso da Ciência, na Universidade de Recife.

Poderia seguir enumerando toda a história e o legado de Antonio Jesus Pfeil, mas ficaria enfadonho e ocuparia o espaço de uma enciclopédia.

Não é o que queremos.

Só queremos dizer, obrigado adorável vagabundo do Ócio Criativo.

 Matéria originalmente publicada no site Notícias da Aldeia -> https://noticiasdaaldeia.com.br/morre-o-cineasta-historiador-e-escritor-antonio-jesus-pfeil/#comment-3062




quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra

                                 Foto: Sind. dos Bancários Campo Grande-MS e Região



Refletindo sobre a Importância da Cultura Afro-Brasileira

    Hoje, mais do que nunca, é essencial refletirmos sobre a importância de reconhecer e valorizar a cultura afro-brasileira. Este dia nos convida a revisitar a história e a celebrar a rica herança cultural que os afro-brasileiros trouxeram e continuam a trazer para o nosso país. Um dos símbolos mais poderosos dessa resistência e luta é Zumbi dos Palmares, cuja vida e legado representam a força e a determinação de um povo que nunca desistiu de lutar por liberdade e justiça.

    Zumbi dos Palmares é um ícone da resistência negra contra a escravidão no Brasil. Ele liderou o Quilombo dos Palmares, uma comunidade de escravos fugitivos que resistiu bravamente contra as forças coloniais por quase um século. A história de Zumbi é um testemunho da resiliência e coragem dos afro-brasileiros, que enfrentaram adversidades inimagináveis para preservar sua liberdade e identidade cultural. Celebrar Zumbi é celebrar a luta contínua por igualdade e reconhecimento, uma luta que ainda ressoa fortemente nos dias de hoje.

    Além de Zumbi, a cultura afro-brasileira se manifesta de inúmeras formas, desde a música e a dança até a culinária e a religião. Essas expressões culturais não apenas enriquecem a diversidade do Brasil, mas também nos lembram da importância de honrar e respeitar as contribuições dos afro-brasileiros para a nossa sociedade. É crucial que, como sociedade, continuemos a promover a inclusão e a valorização dessas culturas, reconhecendo seu papel fundamental na formação da identidade brasileira.

    Este dia é apropriado para refletirmos sobre o passado, reconhecer as lutas e conquistas dos afro-brasileiros e nos comprometermos a construir um futuro mais justo e inclusivo. Que possamos todos nos engajar nessa jornada de valorização e respeito, celebrando a rica tapeçaria cultural que os nossos irmãos teceram e continuam a tecer em nossa sociedade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024



O Atentado e o cidadão de bem

Gerson Vieira*

 

As explosões na Praça dos Três Poderes reverberam além dos estilhaços e do medo. Elas ecoam como um sino de alarme, alertando para um cenário cada vez mais sombrio e complexo que paira sobre o Brasil. A violência, antes vista como um problema distante ou circunscrito a determinados grupos, agora se manifesta no coração da democracia brasileira, atacando os símbolos máximos do poder e da justiça.

É preciso ter clareza: esse ato não é um fato isolado. Ele é a ponta de um iceberg que revela uma série de problemas profundamente arraigados na sociedade brasileira. O avanço da extrema direita, com suas retóricas de ódio e disseminação de fake news, tem criado um ambiente de polarização e intolerância que fragiliza os laços sociais e alimenta a violência. A proliferação de discursos conspiratórios e a adesão a ideologias extremistas, muitas vezes amparadas por setores religiosos como o neopentecostalismo, têm radicalizado parcela significativa da população, tornando-a suscetível à manipulação e à incitação à violência.

A transformação do Brasil em um narcoestado é outro fator que agrava a situação. O crime organizado, com seus tentáculos cada vez mais longos, infiltra-se em todas as esferas da sociedade, corrompendo instituições e manipulando o poder político. A disputa pelo controle do tráfico de drogas e de outras atividades ilícitas gera um clima de insegurança e violência que se espalha por todo o território nacional.

O atentado em Brasília pode ser um caso isolado, o ato desesperado de um indivíduo desequilibrado. Mas também pode ser o início de um processo mais amplo de desestabilização da ordem democrática. A história nos mostra que a violência política, uma vez desencadeada, é difícil de controlar. A espiral de ódio e vingança pode levar a um ciclo de violência que coloca em risco a própria existência da nação.

Diante desse cenário, é urgente que a sociedade brasileira abra os olhos e se mobilize para enfrentar os desafios que a afligem. É preciso combater a disseminação do ódio e da intolerância, fortalecer as instituições democráticas e promover o diálogo entre as diferentes forças políticas. É fundamental também investir em políticas públicas que promovam a justiça social, a inclusão e a igualdade de oportunidades, combatendo as raízes da violência e da criminalidade.

O Brasil está à beira de um precipício. A escolha é nossa: mergulhar no caos ou construir um futuro mais justo e democrático. A responsabilidade por esse futuro é de cada um de nós.

 

* poeta e cronista, ex-secretário de Cultura do PT no Paraná

@gersonlvieira


terça-feira, 12 de novembro de 2024



39º FEIRA DO LIVRO DE CANOAS - SESSÃO DE AUTÓGRAFOS


Convido você para prestigiar nossa sessão de autógrafos. Participo dos dois livros. Será na Praça da Emancipação em Canoas-RS. Amigos e parentes serão benvindos. Se quiser adquirir um livro, o custo é de 50 reais. Ajude a divulgar!

@gersonlvieira

https://www.instagram.com/p/DCRg1zguZfu/?igsh=MXdsYnFmZm82bjg0Yw==

https://www.canoas.rs.gov.br/feiradolivro/#:~:text=P%C3%A1gina%20Inicial-,A%20FEIRA,e%20contar%C3%A1%20com%2022%20bancas.


O MASSACRE DO CENTRO CÍVICO   Gerson Vieira (*)   Cicatrizes na Democracia: O Massacre que Não Podemos Esquecer Dez anos se passaram, mas as...